Escrever é como uma dádiva. É como aquele passarinho que voa sem nenhum objetivo, que faz piruetas, passa por lugares distintos e pinga aquele ponto final todo orgulhoso.
Por isso escrever é como voar. A sua mente viaja, levando seu corpo e você não sabe onde vai parar, nem como.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Eu poderia estar escrevendo algo mais útil, ou que fizesse mais sentido.
Poderia estar usufruindo da máquina que querem que eu seja, dos movimentos mecânicos que querem que eu faça e das tarefas executadas por uma força que eu nem mesmo sei se existe.
As algemas vão me prendendo enquanto, em vão, tento escapar.
Agarram o seu braço como se ele fosse de ferro, dão tapas na sua cara como se você não sentisse. Pegam em suas pernas como se você pudesse continuar andando, montam em seus ombros como se você pudesse suportar o peso do mundo.
Eu poderia estar vendendo, matando, alienando.
Mas quero escrever uma música. Ou um soneto.
Quero tomar um banho de chuva, brincar na calçada, me sujar de lama.
Me chamem de insano, mas eu quero pintar. Ou desenhar um rosto.
Quero fazer caridade, jogar as roupas fora, gritar "liberdade".
Afinal, é bom sentir. É bom sentir-se.
Máquina eu não sou, jamais poderei ser, jamais poderá exigir tamanha insanidade.
Eu tenho carne, eu tenho osso.
Reconheça-me como animal que sou. Como ser humano.